Cimento Sustentável
O cimento é um material muito poluente, pois as matérias-primas necessárias para a sua produção (carbonato de cálcio, sílica, alumínio e minério de ferro) são geralmente extraídas de rocha calcária e argila, ou seja, são recursos finitos do nosso planeta. Essas matérias-primas são extraídas das minas por meio de detonações, são trituradas e transportadas para a fábrica onde são armazenadas e homogeneizadas. Assim, o impacto ambiental acumulado de todo o processo é muito alto, por isso o ideal seria reduzir ao máximo o seu uso nas construções. Nesta perspectiva, estudos europeus tem avançado na direção de um cimento sustentável.
O Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (KIT), na Alemanha, um dos principais centros de pesquisa sobre consumo de energia da Europa, vem priorizando em seus estudos, desde 2009, o desenvolvimento deste material menos poluente e tão eficiente quanto o atual. O principal objetivo é chegar a um material que gere uma menor emissão de CO2 e consuma menos quantidade de energia para ser produzido, minimizando assim o impacto de extração e consumo de recursos, como também reduza o custo financeiro para produzi-lo.
No recente simpósio “O Futuro do Cimento”, que aconteceu em Paris (França), o KIT apresentou seus estudos mais recentes sobre a produção de cimentos que substituem o clínquer pelos hidrosilicatos de cálcio (Celitement®). A descoberta permitirá produzir cimento com 50% menos consumo de energia, pois a mistura é atingida a 500 °C em vez dos 1.450 °C tradicionalmente necessários para a produção do material.
Para o engenheiro Peter Stemmermann, as pesquisas realizadas estão a muito à frente do esperado e a expectativa de implantação de uma planta para produção em larga escala nos próximos anos é positiva.
Entretanto, para Stemmermann, o cimento sustentável só será uma realidade em meados de 2050, porque hoje as principais indústrias de todo o mundo produzem cerca de dois bilhões de toneladas de Cimento Portland por ano, e a curto prazo é impossível a adequação deste contexto mundial de produção. Ele ainda destaca que se todas as fábricas do planeta vierem a adotar a tecnologia que estão desenvolvendo, meio bilhão de toneladas de dióxido de carbono deixaria de ser emitido na atmosfera a cada ano e isso contribuiria enormemente para a preservação do clima.
Além da dificuldade do desenvolvimento tecnológico é necessário viabilizar economicamente o chamado “cimento verde”. O pesquisador alemão explica que o caminho para uma implementação de produção em massa é longo e certamente, exigirá vários anos de desenvolvimento extensivo, pois as etapas passam por testes exaustivos e pelos processos de certificação, de regulamentação e de normalização, e que a priori o material inovador será utilizado em escala experimental em projetos diferenciados.
No Brasil, uma equipe de pesquisadores da Escola Politécnica da USP, conseguiu produzir um tipo de “cimento verde”, usando uma tecnologia menos complexa que a em desenvolvimento na Alemanha. Estes estudos iniciara-se em meados de 2010 e a proposta brasileira foi de substituir parte do clínquer por pó de calcário cru superfino. Este rearranjo na fórmula do cimento produzido no estudo da USP permitiu reduzir a emissão de CO2 em 50%, entretanto, atualmente, esta tecnologia em fase inicial de pesquisa ainda encontra-se limitada a estudos acadêmicos e necessita de investimentos e apoio privado para sua continuidade.
por
Gian Franco Werner
Msc, Engenheiro e Perito Ambiental e Engenheiro de Segurança do Trabalho
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